Tecnologia & Defesa O senhor poderia falar sobre o passado e o presente da empresa?

Alexander Degtyarev - Já estamos trabalhando há 60 anos, desde quando fomos criados para produzir mísseis para o escudo nuclear soviético. Na época, os Estados Unidos eram nosso adversário e temíamos ser alvo de suas bombas atômicas, por isso deveríamos ter a capacidade de lançar ogivas nucleares contra seu território, para assim dissuadir tal ameaça. Foi assim que nossos engenheiros trabalharam no projeto, desenvolvimento e fabricação dos mais capazes mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) da Guerra Fria. Hoje, quando relembramos o passado e refletimos a história, estamos certos de que os mísseis produzidos por nossa empresa levaram a um balanço do poder que tornaram o mundo mais seguro. Por mais de 70 anos vivemos um momento de paz, e estamos certos de que esta foi uma contribuição nossa. Em paralelo aos nossos projetos militares, trabalhamos também com o desenvolvimento de veículos lançadores e de cerca de 400 satélites de 70 modelos diferentes, todos lançados por nossos próprios foguetes em 60 anos de operação. Uma característica da Yuzhnoye é que a maior parte dos componentes, subsistemas e motores foram e ainda são desenvolvidos e fabricados por nós mesmos, sem necessidade de subcontratar outras empresas, pois possuímos domínio completo da tecnologia espacial. Um exemplo disso são os propulsores líquidos e sólidos, como os dos mísseis balísticos soviéticos, e daqueles lançados por submarinos. Todos desenvolvidos por nós. A nossa atividade com relação aos propulsores se tornou mais estratégica do que antes, pois estes são os principais elementos de um foguete. O fato de termos todas as capacidades de desenvolver os sistemas necessários ao veículo lançador nos traz uma série de vantagens e uma fl exibilidade no mercado, e não conheço uma empresa no mundo que tenha isto. Então, hoje temos negócios focados em quatro segmentos que são, respectivamente, o fornecimento de serviços de lançamento, a fabricação de satélites, propulsores líquidos e sólidos e a fabricação de mísseis táticos, de acordo com as necessidades nacionais. Mesmo assim, nossa empresa e sua estrutura são muito grandes e não podemos depender somente do mercado nacional, necessitando buscar fora do país clientes e parceiros.

T&D - Qual é a importância da Alcântara Cyclone Space para esta cooperação e quais as oportunidades para Brasil?

Alexander Degtyarev - Primeiramente, o projeto Cyclone-4 é muito importante para nós, pois nos dá oportunidade de criar um novo e moderno lançador e um complexo de lançamento, e isto tem sido muito desafiador. Para o futuro, serão produzidos aqui na Yuzhmash cerca de seis veículos por ano. A ACS significa o início de uma atividade prática espacial em Alcântara. Vocês tem um interessante projeto chamado Cruzeiro do Sul, onde estão apenas no primeiro estágio – Alfa. É nosso sonho participar da criação dessa família de foguetes, e nosso Cyclone-4 pode ser seu Delta. A ACS representa uma boa oportunidade para preparar uma geração de técnicos brasileiros na exploração de serviços espaciais. Nossa cooperação e confiança no âmbito da ACS nos traz potenciais ainda maiores de trabalho conjunto. Nós poderíamos colaborar com o programa Cruzeiro do Sul, especialmente nos propulsores e estágios dos veículos lançadores. Nós temos uma base para criação rápida e barata de um motor de propulsão líquida que poderia ser desenvolvido em conjunto, e que no caso brasileiro poderia servir como segundo estágio para os lançadores Alfa e Beta, e num lançador maior poderia equipar o terceiro estágio. Outro segmento que poderíamos explorar é no desenvolvimento de satélites de sensoriamento remoto da Terra e em foguetes com propulsão híbrida. Agora nós decidimos abrir uma representação no Brasil para mapear e aprofundar essas oportunidades.

 

Fonte:  "Tecnologia & Defesa" №135