Há sete anos atrás, no dia 20 de fevereiro de 2014, a Rússia começou a guerra contra a Ucrânia. A agressão teve início com a ocupação da República Autônoma da Crimea e da cidade de Sebastopol, sob pretexto da organização de um "referendo" ilegal e, em seguida, instalação e ocupação em áreas das regiões de Donetsk e Lugansk. A continuação da agressão russa ameaça a segurança e a estabilidade globais e regionais, além de minar os princípios do Direito Internacional e da ordem baseada na coexistência pacífica de Estados Independentes.
Em 2020, a Ucrânia fez todos os esforços para alcançar compromissos e revigorar o processo de negociação. Apesar disso, a resolução final do conflito ainda está longe de ser alcançada. A situação de segurança no terreno se deteriora novamente devido ao aumento do número de provocações armadas russas e violações regulares do cessar-fogo.
No total, apenas ano passado, 50 militares ucranianos foram mortos em combate, quatro deles executados após a promulgação do acordo de cessar-fogo.
A Rússia formou dois corpos de exército em Donbass, consistindo de mais de 34.000 pessoas treinadas, controladas, coordenadas e comandadas por profissionais militares russos. Essas tropas estão armados com pelo menos 475 tanques, 948 veículos blindados de combate, 762 sistemas de artilharia e 208 sistemas de lançamento de foguetes múltiplos.
Grupos de espionagem e reconhecimento russos continuam chegando à Ucrânia e realizando suas atividades ilegais. Posições ucranianas e objetos civis em Donbass são bombardeados e atacados diariamente.
O preço pago por cidadãos de bem que vêm sofrendo com essa agressão está em constante crescimento, incluindo mais de 14 mil mortos, mais de 27 mil feridos, 1,5 milhões de refugiados internos no país. Como resultado da agressão russa e a ocupação de 7% do seu território, a Ucrânia perdeu mais de 20% do seu Produto Interno Bruto (PIB).
A Rússia ignora seus deveres e obrigações internacionais como Estado ocupante, instalando sistêmicas perseguições políticas nos territórios ocupados, em particular por motivos étnicos e religiosos; violando direitos humanos e liberdades fundamentais; realizando eleições ilegais e recrutamento cidadãos ucranianos para o exército russo; emitindo ilegalmente passaportes russos para cidadãos ucranianos; facilitando a migração massiva da população russa para a Crimea, a fim de alterar a situação demográfica na península.
A Rússia continua embalando Donbass com armas pesadas e equipamentos militares sofisticados, e está constantemente construindo poderosas fortalezas militares no Donbass e na Crimeia ocupados, prontas para explodir a qualquer momento e levar a uma crise europeia de pleno direito.
A Rússia faz dos territórios ocupados da Ucrânia um palco de vários eventos de caráter internacional, inclusive sobre relações culturais, educacionais ou das cidades-irmãs. Todas essas atividades visam embelezar a participação de algum público ou figura política estrangeira como mais uma tentativa de legitimizar a ocupação ilegal dos territórios do país vizinho.
Vendo a necessidade de aprimorar e ampliar a resposta à ocupação da Crimeia e consolidar os esforços a nível internacional, a Ucrânia estipulou uma nova forma de combater o desrespeito russo - a Plataforma da Crimeia.
É um esforço para fornecer uma visão estratégica para o processo de libertação da Crimeia, bem como para adicionar sinergia a todos os processos relevantes em diferentes fóruns.
Uma cúpula inaugural, que está programada para ocorrer em Kyiv no dia 23 de agosto de 2021, lançará a Plataforma da Crimeia e adotará uma declaração delineando a visão para uma maior consolidação da política da Crimeia.
A Plataforma se concentrará em 5 áreas prioritárias: política de não reconhecimento; segurança, incluindo liberdade de navegação; eficácia das sanções contra o Estado agressor e extensão delas; proteção dos direitos humanos, incluindo liberdade de expressão, reunião pacífica, direitos educacionais, culturais e religiosos, e direito internacional humanitário; superação do impacto negativo da ocupação temporária da Crimeia na economia e no meio ambiente.
A Rússia deve liberar imediatamente todos os cidadãos ucranianos detidos ilegalmente durante o tempo de agressão militar e parar com a prática de perseguições políticas nos territórios temporariamente ocupados, incluindo contra os representantes das minorias nacionais, em particular Tártaros da Crimea, violação de direitos e liberdades humanos fundamentais: liberdades de expressão e de reunião, de mídia e liberdades religiosas, e fornecer acesso para os territórios ocupados para estabelecer os mecanismos de monitoramento guiados por organizações internacionais de direitos humanos.
A política de não reconhecimento da tentativa de anexação da Crimeia, incluindo a parte-chave desta política, as sanções pessoais e setoriais contra a Rússia, serão mantidas até a desocupação da península e retorno da Rússia ao campo do Direito Internacional.
Rostyslav Tronenko, Embaixador da Ucrânia no Brasil.
Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/sete-anos-de-agressao-russa-contra-ucrania.html