Este ano, no dia 9 de março, em todo mundo comemora-se o bicentenário do nascimento do maior poeta do povo ucraniano Taras Chevtchenko. O bicentenário foi incluído no calendário das datas festivas da UNESCO.
Desde a infância Chevtchenko, nascido na família de escravos, tinha a paixão por desenhos e procurava possibilidades de aprende-los. Aprendia a pintura do mestre de São Petersburgo Vassili Cheriáiev. Juntamente com outros alunos, participava da decoração do Teatro Bolshoi e outros teatros de São Petersburgo.
O famoso pintor Karl Briullov e o poeta Vassili Zhukovski foram impressionados com o destino difícil do jovem talentoso e resgataram-no da servidão.
Já sendo livre, Chevtchenko estudou na Academia das Artes da Rússia e recebeu o título de Pintor.
Chevtchenko começou a escrever poemas ainda sendo escravo. A publicação da primeira coleção - "Kobzar" foi um evento de grande importância não só na história da literatura ucraniana, mas também para a formação da autoconsciência do povo ucraniano.
Suas obras literárias exultavam o espírito da luta de libertação e tiveram o sentido político-social, o que foi o motivo da sua prisão e exílio de dez anos com proibição para escrever.
No entanto Chevtchenko quebrou esta proibição e seguiu escrevendo em segredo. Pelas qualidades artísticas e significados ideológicos a lírica de Chevtchenko durante o exílio é uma etapa importante não só no seu desenvolvimento artístico, mas também na poesia ucraniana em geral, que adiantou a época literária e criou as bases para o desenvolvimento da poesia ucraniana no final do século XIX (Ivan Frankó, Lessia Ukrainka).
Após a sua libertação, Chevtchenko veio para São Petersburgo, onde participava ativamente da vida social, recebeu do Conselho da Academia das Artes o título do Acadêmico de Gravura.
Logo foi autorizada a publicação das suas obras escritas e saiu uma coleção intitulada "Kobzar", que consistia de poemas escritas antes do seu exílio.
Mas os anos de exílio abalaram a saúde de Chevchenko que ficou gravemente doente e morreu em 1861. A morte de Chevtchenko foi uma enorme perda para a literatura ucraniana e movimento de libertação. No entanto, as obras do poeta fizeram uma contribuição notável no desenvolvimento da consciência estética, social e nacional do povo ucraniano. Sua poesia tornou-se uma época no desenvolvimento da língua ucraniana literária.
Claramente visível o impacto das obras de Chevtchenko nas literaturas das nações eslavas (búlgara, checa, polaca e outras).
(A base das informações do site http://taras-shevchenko.in.ua/)
O Sonho
(fragmento)
Cada qual tem o seu destino,
Seu caminho vasto;
Um constrói, um destrói:
Com olhar nefasto
Os confins do mundo mede,
Busca a terra nova
Para espoliar e consigo
Levar para a cova.
Um descasca com baralho
Uma casa amiga,
Um afia às escondidas
A arma fratricida.
Um, quietinho, piedoso,
Manso, mas atento,
Como um gato se aconchega,
Aguarda o momento –
Zás! teu fígado perfuram
Garras venenosas;
Não adiantam choros-rogos
Dos filhos, da esposa.
Um, magnânime, edifica
Igrejas, capelas,
Diz-se o protetor da pátria
Acendendo velas
Ao beber seu sangue vivo –
Qual água, malvado,
E os compadres calam, tolos,
De olho esbugalhado.
Como ovelhas: “Pois que seja,
Talvez, é preciso.”
É preciso! Pois não reina
Deus no paraíso!
Vós que padeceis no jugo
Desta sina triste
Aguardais um céu na terra?
O céu – não existe.
É quimera. Tomai juízo,
Irmãos e inimigos:
Os filhos de Adão são tzares,
Tanto o são mendigos.
Mais aquele... mais aquele...
E eu, boa gente?
Dia e noite só festejo –
Triste ou contente.
As censuras não me atingem,
Ergo o copo cheio,
Pois eu bebo o próprio sangue,
Não sangue alheio.
Voltando ao longo do cercado,
À noite, após banquetear,
Assim me pus a matutar
Até chegar ao meu reinado.
Não gritam filhos no meu lar,
A esposa – não ralha,
Sossego se espalha,
Paira o divino bem-estar
Na casa e na alma.
Deitei-me, com calma.
E quando dorme um beberrão,
Nem dos canhões a salva
Consegue acordá-lo então.
Um sonho estranho vem ao ébrio:
Até o mais sóbrio
Queria estar embriagado,
O avaro teria dado
Um bom ducado, para olhar
Visões que tive ao sonhar:
Uma ave augural, escura,
Uma coruja taciturna
Levanta o voo sobre os prados,
Verdes campos e descampados,
Largas estepes, povoados,
Rios alados.
Eu sigo com pesar profundo,
Despeço-me do mundo:
“Adeus, mundo, adeus, terra,
País inimigo,
Minhas dores, minhas mágoas
Levarei comigo.
A ti, minha pobre Ucrânia,
Viúva sem sorte,
Visitarei das alturas,
Das nuvens da morte.
Vamos consolar-nos, tristes,
Com amor intenso,
Eu te cubro à meia-noite
Com orvalho denso.
Virei, até o sol desponte
E tu não mais chores,
E teus filhos se revoltem
Contra os invasores.
Adeus, minha mãe querida,
Viúva cativa,
Crie os filhos: Deus é dono
Da verdade viva!”
Tradução de ucraniano: Wira Selanski (Wowk)