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"Os valores europeus nunca devem estar à venda" - o artigo do Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia Sr. Pavlo Klimkin
19 dezembro 2017 23:02

 A Rússia deve ser responsabilizada pelos seus repetidos crimes e outras transgressões.

Em 1949, quando o mundo, em geral, e a Europa, em particular, ainda estava a recuperar da guerra mais devastadora que o nosso planeta já vira, forças iluminadas juntaram-se para fundar o Conselho da Europa. A organização, que é hoje composta por 47 países, foi criada para consagrar os “valores universais” dos Direitos Humanos, da democracia e do Estado de Direito. Não é coincidência que hoje, na nossa parte do mundo, nos referimos de forma intercambiável a esses mesmos valores como “valores europeus”. Por outro lado, é a Rússia que viola diariamente os direitos humanos, ridiculariza a democracia e cospe no sistema baseado em regras, do qual os europeus passaram a depender.

Apesar de todos os seus pontos fracos, o projecto europeu da segunda metade do século XX e do início do século XXI tem sido um sucesso. Porém, a segurança e a liberdade que muitos deram por garantidas e por que tanto aspiravam muitos dos que estavam atrás da antiga Cortina de Ferro estão agora sob ameaça.

Quase há um ano atrás, em Fevereiro de 2017, na Conferência de Segurança de Munique sobre “a era pós-Ocidental”, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, alegrou-se com a desgraça alheia. Já deixou de ser um segredo ou mesmo uma questão de debate que a Rússia insemina a sua guerra híbrida contra nós, no Ocidente, para semear discordância e prejudicar a ordem para a qual tanto se batalhou.

É face a este pano de fundo que os membros do Conselho da Europa devem agora pensar cuidadosamente como é que, finalmente, a Rússia deve ser enfrentada pelo seu desprezo total e cínico das regras do próprio Conselho. Há aquelas vozes poderosas e ilustres que diriam agora que já é tempo de trazer novamente a Rússia para ela poder desfrutar mais uma vez da participação plena em actividades do Conselho. E o preço que esta deve pagar é simplesmente os 22 milhões de euros, os quais, de qualquer forma, já deve, prometendo que age e respeita as regras no futuro. Os erros cometidos no passado, tais como o seu fracasso vergonhoso em aplicar as resoluções do Comité de Ministros e da Assembleia Parlamentar adoptadas em resposta à sua agressão na Ucrânia, simplesmente serão ignorados.

É assim que as vítimas de bullying reagem e os agressores se comportam: as vítimas são demasiado mansas para se defender a si próprias e para reagir adequadamente. Porém, como é sabido, sempre que uma criança der os seus doces a um agressor, ele não se torna uma pessoa agradável, é antes encorajado a repetir o ataque, cada vez com mais intensidade.

Tal como o agressor de bullying, a Rússia apenas pode ser confrontada do ponto de vista do poder, pois não respeita qualquer outra língua. As suas palavras e promessas não têm significado, pois este é o país que mente à escala industrial, o que é uma parte da política governamental para atingir os seus próprios objectivos e para confundir os seus inimigos. E lembremo-nos de que esses inimigos somos nós.

Embora nos diferenciemos nos nossos valores, nós, ucranianos, pela nossa história, compreendemos bem como a Rússia age. Portanto deixem-me expressar com clareza a nossa posição.

Um dia, a Rússia deve juntar-se à Europa e ao mundo livre como um parceiro confiável. Por essa mesma razão, nós devemos continuar a fazer tudo para podermos alcançar esse objectivo. Mas, ao mesmo tempo, a Rússia deve ser responsabilizada pelos seus repetidos crimes e outras transgressões.

Se o Conselho da Europa não assumir uma posição firme e de princípios, desacreditar-se-á a si próprio. A Rússia será encorajada a continuar o seu comportamento actual. Por que não o fazer, se não há consequências? Além disso, outros Estados também podem ser encorajados a comportar-se erroneamente. Decerto, a credibilidade do Conselho será severamente, talvez até letalmente, danificada.

O retorno da Rússia não pode ser incondicional — fazer isso seria igual a um apaziguamento. E quem disse que apaziguadores eram aqueles que alimentavam crocodilos, esperando que fossem comidos por último?

 

Fonte: https://www.publico.pt/2017/12/18/mundo/opiniao/os-valores-europeus-nunca-devem-estar-a-venda-1795740

 

 

Público,

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