CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Petro Oleksiyovych Poroshenko se diz um "presidente da paz, não da guerra", mas está lutando uma guerra que, para ele, não é apenas sua, mas em favor da "segurança global".
O presidente da Ucrânia, 49 anos, aproveitou sua presença no encontro anual-2015 do Fórum Econômico Mundial para conversar com o International Media Council, grupo informal de jornalistas do mundo todo.
Seu objetivo era claro: ganhar junto à opinião pública a guerra de propaganda contra a Rússia de Vladimir Putin, vitória que ele acha indispensável.
"É impossível vencer essa batalha pelos meios militares; a vitória depende de ganhar a mente das pessoas que vivem nos territórios ocupados pelos terroristas", diz.
"Terroristas" é a única palavra que usa Poroshenko, eleito em maio de 2014 com 54% dos votos, para se referir aos rebeldes que preferem unir-se à Rússia em vez da escolha pela Europa que a maioria dos ucranianos fez nessa eleição.
O presidente nega que haja uma guerra civil. Para ele, está demonstrado que "a Rússia controla as atividades dos terroristas".
Acusa, por isso, o presidente Putin de desrespeitar o chamado Protocolo de Minsk, firmado pelas partes em conflito em setembro e que continha as bases para estabilizar a situação nas áreas em conflito.
CESSAR-FOGO
Poroshenko insiste em que é urgente, como primeiro passo, estabelecer um cessar-fogo, ponto inicial do Protocolo de Minsk.
Quando insiste em que sua guerra é pela segurança global, ameaçada pelos "terroristas", o presidente chega a comparar recente incidente na pequena cidade ucraniana de Volnovakha ao atentado ao jornal francês "Charlie Hebdo".
Em Volnovakha, no dia 13, os "terroristas" atacaram um ônibus de passageiros, matando 13 civis.
"Foi um míssil trazido da Rússia, como no caso do avião da Malaysia Airlines", derrubado em julho sobre a região em conflito, deixando 298 mortos.
O articulado discurso de Poroshenko, em impecável inglês, é comprado por uma jornalista polonesa presente à conversa. Diz ela ao presidente: "O desfecho da crise ucraniana determinará o futuro da Europa Central" (a área ocupada pelos países ex-comunistas).
Esse milionário homem de negócios -era chamado de "rei do chocolate"-, transformado em presidente, levou para a conversa um mapa da Ucrânia no qual está assinalada o que deveria ser a linha de frente dos combates.
Mostra que ela não está sendo respeitada, a ponto de uma área de 550 km² ter sido invadida "não pelos terroristas, mas pelo Exército russo".
Por mais que Poroshenko diga que há na Ucrânia 2.000 soldados russos, ele acha que "não há preparação para um ataque maciço ao território ucraniano".
O que quer, então, Vladimir Putin?
"Ninguém no mundo pode entender o que Putin quer. Talvez nem o próprio Putin saiba", responde, permitindo-se uma ponta de ironia, mesmo em uma situação que ele classifica de "muito perigosa".
Permite-se também uma ponta de otimismo: "Se a Rússia retirasse suas tropas e parasse de fornecer armas e recursos aos terroristas, o conflito cessaria imediatamente".
Quais as chances de que isso de fato ocorra? Poroshenko, como é óbvio, não tem a resposta, mas acha que "o tempo trabalha contra Putin" pela combinação da situação no terreno (a vitória militar parece impossível para qualquer lado) com o efeito das sanções ocidentais sobre a economia russa, mais a queda violenta no preço do petróleo.
Até que o tempo faça realmente efeito, o marido de Maryna Anatolivna, pai de quatro filhos, tem ainda que enfrentar uma difícil situação econômica, herdada do governo anterior e agravada pela guerra.
"Guerra é muito cara", lamenta o "presidente da paz".