A Organização Mundial de Saúde decretou na segunda-feira a epidemia do vírus Zika como uma emergência sanitária internacional, com o objetivo de mobilizar os recursos necessários para combater a sua rápida propagação.
Já há casos registados do vírus em pelo menos 26 países do continente americano e existem fortes suspeitas de que o Zika é responsável por deformações nos fetos de mulheres grávidas infetadas.
O Brasil registava 4074 casos de microcefalia a 30 de janeiro.
Um caso de transmissão sexual, no Estado norte-americano do Texas, veio reforçar os receios. Atualmente, as únicas formas de combater a epidemia, são preservativos, produtos repelentes, a fumigação e a eliminação de pontos de água estagnada, favoráveis ao desenvolvimento das larvas de mosquito.
Esta semana, vários laboratórios lançaram-se na pesquisa de uma vacina para o Zika, um vírus pouco estudado pela comunidade científica desde que foi pela primeira vez identificado, em 1947, em macacos no Uganda. O primeiro caso humano foi detetado em 1952.
Entrevista
Para saber mais sobre o estudo de uma vacina para o Zika, falámos com Nicholas Jackson, diretor de pesquisa dos laboratórios Sanofi Pasteur.
Nial O’Reilly, euronews: Obrigado por estar connosco. A sua empresa é uma das que estão à procura de uma vacina. É um grande desafio desenvolver uma que seja eficaz, acessível e segura?
Nicholas Jackson: É um desafio global e que pode levar anos a ser supeado, mas a OMS deixou bastante claro que o Zika é uma emergência global que tem de ser tratada a nível internacional. Podemos responder a isso, por duas razões. Primeiro, a nossa empresa tem a tecnologia e a experiência. Em segundo lugar, temos uma grande infraestrutura, que foi posta a funcionar para a vacina do dengue. Isso permite-nos começar com avanço e fazer com que o desenvolvimento da vacina se acelere.
Mas, pelo que diz, isso pode levar anos e não meses…
Sim, o desenvolvimento da vacina vai levar alguns anos, porque temos de ir passo a passo, com cuidado e provar que a vacina é segura e eficaz.
Mesmo a versão experimental vai levar anos a chegar onde é precisa…
Vai levar anos, mas o importante é que podemos colaborar, a nível global, com organizações como a OMS, em regiões ou países como o Brasil. Ao usarmos a experiência adquirida com o Flavivirus, podemos poupar vários anos.
Mas sem essa colaboração e sem uma vacina eficaz, que gravidade pode a epidemia de Zika assumir?
A OMS foi muito clara. Há uma associação potencial com várias complicações congénitas e também um distúrbio neurológico potencial que tem sido associado ao Zika, no caso dos adultos. Por isso, temos de tratar esta matéria de forma muito séria e não esquecer que o mosquito que está a transmitir a doença é uma forma de transmissão extremamente eficaz. Espalhou o dengue por todo o mundo, nas regiões tropicais.
E o dengue é semelhante?
O Dengue é um vírus semelhate, que pertence à mesma família que o Zika. É um mosquito extremamente domesticado, que vive nas nossas casas, pode estar debaixo da nossa mesa da cozinha. Quando morde, é muito agressivo. Levou já o dengue a uma centena de países em todo o mundo.
Quanto à potencial mutação do vírus – iria trazer uma grande desvantagem para o desenvolvimento da vacina?
*O vírus muda, mas olhando para a informação genética atualmente disponível, o vírus do Zika está conservado em cerca de 95%. Só uma pequena percentagem do código genético é diferente. Isso faz dele um alvo relativamente fácil, em comparação com outros vírus.
O grupo-alvo é o das mulheres grávidas. Obviamente não podem fazer os testes nelas. Isso pode também ser um fator que vai abrandar a pesquisa?
*Se se confirmar que a doença neurológica conhecida como síndrome de Guillain-Barré syndrome, que causa uma paralisia degenerativa, está associada ao Zika, vamos precisar de uma vacina para previnir a doença também, para todas as idades e ambos os sexos. Com certeza, reconhecemos que a prioridade vai para as mulheres que pensam engravidar, que poderiam realmente tirar benefícios de uma vacina que previne a doença.
A epidemia pode espalhar-se pela Europa, já que o vírus está presente no sul de França. É verdade?
Os mosquitos que podem transmitir e que transmitem o Zika foram identificados no sul da Europa e numa vasta área dos Estados Unidos. Se se provar uma relação com estas complicações clínicas de que falámos, isso torna-se numa grande preocupação para a saúde pública.
Fonte: http://pt.euronews.com/2016/02/04/zika-do-alerta-global-a-corrida-a-vacina/