Nadia Savtchenko, a piloto, deputada e ativista ucraniana detida por Moscovo e acusada da morte de dois jornalistas russos em território ucraniano durante o conflito entre a Ucrânia e a Rússia de 2014, disse esta quarta-feira que iria continuar com a greve de fome que arrasta há meses.
As declarações de Savtchenko tiveram lugar esta quarta-feira, no último dia de um longo processo judicial que decorreu num tribunal russo na pequena cidade de Donetsk, perto da fronteira com a Ucrânia.
Quando o juiz perguntou a Savtchenko se esta teria uma última palavra antes de encerrada a presente fase do processo, a que é considerada como uma heroína nacional na Ucrânia fez um manguito aos presentes na sala, levantando depois o dedo médio e explicando que referido gesto seria a sua última palavra.
“Querem a minha última palavra? Esta é a minha última palavra. Traduza”, disse, ao mesmo tempo, em ucraniano, antes de entoar o seu hino nacional.
A justiça russa pede 23 anos de prisão para Savtchenko por assassinato, tentativa de assassinato e invasão ilegal do território russo. A piloto teria, segundo as autoridades russas, ajudado a fornecer a posição exata de dois jornalistas russos que teriam sido mortos num ataque no este da Ucrânia no versão de 2014.
Moscovo mantém que deteve Savtchenko em território russo, mas os seus advogados insistem em que foi capturada por rebeldes pró-russos em território ucraniano.
Em entrevista à Euronews, Iulia Timochenko, antiga Primeira-ministra e líder do partido político Pátria e do Bloco Iulia Timochenko, disse que os líderes do mundo Ocidental deveriam tomar uma posição.
“Penso que os líderes do Ocidente e que as pessoas de todo o mundo deveriam unir-se contra as políticas de Vladimir Putin”, disse Timochenko.
“E isso inclui a defesa de Nadia SavTchenko e a defesa da Ucrânia contra a guerra”, conlcuiu.
Segundo o correspondente da Euronews na capital ucraniana Kiev, Sergio Cantone, a libertação de Nadia Savtchenko depende agora da pressão internacional que possa vir a ser exercida sobre Moscovo e que, no fundo, “todos sabem que se trata de uma decisão do Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin”.
Pressão internacional que tem vindo a fazer-se sentir por parte do Ocidente. Joe Biden, o Vice-Presidente dos Estados Unidos, exigiu, tal como fez a Alemanha a libertação “imediata” de Savtchenko.
Berlim recordou também que o processo judicial em curso na Rússia contradiz os princípios do acordo de Minsk de 2015, que prevê que todos os prisioneiros feitos durante o conflito entre a Rússia e a Ucrânia sejam devolvidos aos respetivos países.
Paralelamente, cinco membros da União Europeia – a Lituânia, o Reino Unido, a Polónia, a Roménia e a Suécia, pedirão à UE que sancione os responsáveis russos que considerem implicados no processo que envolve o julgamento de Nadia Savtchenko.
A Ucrânia, por seu lado, tinha já exigido a libertação de Savtchenko. Mas Moscovo insiste que a Savtchenko não poderá ser libertada sem que se conheça a posição da justiça russa.
Esta quarta-feira, manifestantes protegidos com máscaras lançaram ovos e granadas de dispersão sobre o consulado russo na cidade de Lviv, considerada um feudo nacionalista em território ocidental ucraniano. Alguns dos presentes queimaram também, segundo a AFP, uma bandeira russa.
Foram registados protestos semelhantes também na capital ucraniana Kiev, onde o edifício da representação diplomática russa foi atacado por alguns manifestantes, que lançavam ovos enquanto gritavam palavras de ordem a favor da libertação de Nadia Savtchenko.
Por António Oliveira e Silva | Com SERGIO CANTONE E AFP