Principal símbolo arquitetônico das igrejas ucranianas ainda é fabricado artesanalmente em funilaria do Capão Raso
Seu nome não é dos mais fáceis de pronunciar: Hryhorij Nedorub. Mas para evitar o trava-língua alheio, também aceita ser chamado de Gregório, a versão abrasileirada do nome. Aos 76 anos, esse ucraniano da região de Poltava é o último artesão de Curitiba e arredores a dominar a técnica de construir cúpulas, principal símbolo da arquitetura religiosa ucraniana.
Gregório veio ao Brasil aos 10 anos só de sapatos e calça, acompanhando a família na fuga dos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Estudou funilaria e se interessou pelas cúpulas ao acaso. Um dia um bispo da igreja católica ucraniana estava à procura de um artesão e perguntou se ele sabia moldar as peças. Aceitou o desafio e aprendeu sozinho a construí-las. Em 1968, levantou as primeiras cúpulas, na igreja Santa Ana, no Pinheirinho.
Quem passa em frente a sua oficina no Capão Raso nem desconfia que ali habita o último de sua espécie, já que o funileiro aposentado gasta maior parte do tempo fabricando calhas. Na época de ouro, por volta de 1970, chegou a empregar 17 funileiros.
Hoje tem apenas um funcionário, o único herdeiro desse saber tradicional. Seu filho, também Gregório, um arquiteto de mão cheia e seu mais querido aprendiz, faleceu em um acidente.
“É questão de dom. E eu gosto do que faço. Tento sempre fazer tudo perfeitinho.” Gregório valoriza tanto a perfeição técnica das peças que às vezes esquece de ver poesia no que faz.
Alma
A arquiteta Marialba Rocha Gaspar Imaguire, que, junto dos arquitetos Fábio Domingos e Sandra Magalhães Corrêa, esmiuçou esse tipo de arquitetura no livro Igrejas Ucranianas: Arquitetura da Imigração no Paraná, explica: “Herdada da tradição bizantina, a cúpula é o principal elemento arquitetônico das igrejas ucranianas, guardando simbologias bastante ricas”.
De formato geralmente arredondado e octogonal, elas simbolizam a chama de uma vela que conduz ao céu. “Uma única cúpula significa a fé em um único Deus, três indicam a Sagrada Família ou a fé na Santíssima Trindade e cinco sinalizam Cristo cercado pelos quatro evangelistas. Do lado de dentro, elas ainda reproduzem a abóboda celeste.”
Apesar de toda essa riqueza simbólica, é fácil saber se uma cúpula é de Gregório. Suas marcas registradas são os revestimentos “escamas de peixe” em aço inox ou alumínio, e as esferas de metal abaixo das cruzes. Construtivamente, elas são similares às outras, com esqueleto de madeira ou metal, revestido com tábuas e coberto por telhas.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/cupulas-nas-maos/