Senhora Rosana Tomazini - coordenadora do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica,
Senhor André Cavalcante - Diretor da Escola de Negócios,
Excelentíssimo Senhor Otar Berdzenishvili, Embaixador da Georgia,
Senhoras e Senhores,
É motivo de grande satisfação para mim ter essa possibilidade de apresentar aqui o meu país, a Ucrânia.
Trata-se de um país de grande expressão política e econômica, na fronteira entre a União Europeia e a Rússia.
Com área de mais de 600 mil km2, é o pais de maior extensão geográfica localizada inteiramente dentro da Europa.
Com cerca de 45 milhões de habitantes, possui a sexta maior população da Europa, atrás apenas da Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha.
A Ucrânia foi historicamente o berço da cultura eslava, havendo sediado, entre os séculos 9 e 12, a celebre estado medieval Russ de Kyiv, que conectava a Escandinávia com o Império Bizantino.
O Russ de Kyiv tem a particularidade de ser considerado o genitor de varias civilizações, não apenas do moderno estado ucraniano, como também da própria Rússia, Belarus e outros.
Entre os séculos 13 e 16, entretanto, o atual território ucraniano foi ocupado por uma sucessão de potencias, no século 17 e início do 18, a Ucrânia recuperou uma identidade própria, por meio da formação de um estado liderado pelos cossacos do Rio Dnieper, mas a partir de meados do sec. 18 foi novamente dividido, inicialmente entre Polônia e Rússia e depois entre a Austro-Hungria e Rússia.
A Ucrânia volta a formar um estado independente por um período curto no século XX após a I Guerra Mundial e depois foi incorporado à União Soviética.
O surgimento da Ucrânia moderna se dá, portanto, em 1991, com a dissolução da URSS. Nos 25 anos que separam aquela data de hoje, a Ucrânia vem construir uma identidade própria, modernizar sua economia e diversificar seus parceiros externos, tudo isso em meio a pressões constantes da Rússia.
Anelo de sempre da Ucrânia de ser o dono do seu próprio destino está relacionado também com seu grande potencial econômico. O país é detentor de grande extensão das chamadas terras negras, que são excepcionalmente férteis, fazendo da Ucrânia um grande produtor de trigo, cevada e milho, conhecida pela alcunha “celeiro da Europa”. 33% das terras negras do mundo ficam na Ucrânia.
A Ucrânia possui, ainda, uma base industrial bem desenvolvida, sustentada de mão de obra altamente qualificada. Cabe destacar alto nível dos setores metalúrgico e químico, bem como um avançado complexo militar industrial. É bem conhecido um sistema educacional avançado, especialmente em ciências.
Esse conjunto de características permitiu à Ucrânia construir um setor industrial importante e desenvolver os setores aeroespacial e militar. Vários são os exemplos dessa capacidade: a empresa aeroespacial Antonov, por exemplo, produz ampla gama de aviões civil e militares, incluindo a maior aeronave já construída, o An-225 conhecido como “Mriya” ou ‘Sonho’ em ucraniano - o maior avião de carga no mundo com a capacidade para transportar mais de 200 toneladas de carga útil. A Motorsich, fabricante de motores de aviação desde 1915, hoje equipa aviões e helicópteros civis e militares ucranianos e de muitos outros países. Há, por fim, grandes estaleiros no Mar Negro, que constroem desde submarinos até porta-aviões. Esse impressionante complexo faz da Ucrânia hoje o 6º maior exportador mundial de armas, após os EUA, Rússia, Franca, Alemanha e Israel.
A Ucrânia possui também um sistema educacional bem desenvolvido voltado para as ciências exatas. A educação básica é considerada excelente, e o país produz o quarto maior contingente de graduados de universidades na Europa, embora seja apenas o sexto em população.
Quando nos falamos sobre os desafios contemporâneos na Comunidade Internacional como tema desta Aula Magna temos que mencionar os problemas da segurança e neste caso a Ucrânia dá para mundo inteiro um exemplo para seguir fazendo uma contribuição significativa para o fortalecimento da paz, sendo o primeiro país no mundo a renunciar voluntariamente ao arsenal nuclear poderoso.
Como a base dessa decisão de renunciar ao arsenal nuclear foi usado o Memorando de Budapest, no qual os países membros do Conselho da Segurança da ONU garantiam a integridade territorial e soberania para Ucrânia. Sobre que tipo de garantias podemos falar quando um dos países signatários pisou vergonhosamente as disposições deste documento e desatou no curso até agora, uma agressão aberta contra a Ucrânia.
Com o apoio da comunidade internacional, a Ucrânia continua a sua luta pela recuperação da Criméia, pelo fim da agressão externa militar no Leste da Ucrânia e restabelecimento da paz e autoridade legítima nos territórios temporariamente ocupadas ucranianas. Há dois anos, por uma maioria convincente dos votos na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas foi aprovada a Resolução "Integridade Territorial da Ucrânia", que em resposta da ocupação da Criméia pela Rússia confirmou a soberania, a independência política, unidade e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. Em favor da resolução votaram 100 países, contra - 11 países, liderados pela Rússia.
Infelizmente, mesmo após o veredicto claro da comunidade internacional, a Rússia não se voltou para o direito das nações civilizadas. Com a sua ocupação ilegal da Criméia e da cidade de Sevastopol, bem como a invasão militar em Donbass ucraniano, Moscou continua teimosamente a violar o direito internacional.
Durante os últimos dois anos da ocupação ilegal, a Rússia continua a violar em grande escala os direitos humanos na Criméia, incluindo do povo tártaro da Criméia – o povo nativo da península da Criméia.
Outro tema imperativo atual e desafiante para comunidade internacional é problema de proteção de direitos humanos. E neste sentido, sem mencionar as quase 10 mil falecidos entre civis e militares como o resultado da agressão da Rússia, mais de 1,5 milhões de refugiados e 800 pessoas desaparecidas tenho a obrigação de fazer referência a caso de Nadiya Savchenko que agora é símbolo de resistência e luta sem compromisso. Por todos os lados, de autoridades oficiais e de pessoas comuns nos diferentes países manifesta-se protesto categórico contra a continuação da detenção de Nadiya Savchenko, condenada ilegalmente pelas autoridades russas.
A Ucrânia exige que a Rússia e os terroristas controlados pela mesma acabem com as violações dos acordos de Minsk e garantam o pleno cumprimento das decisões tomadas no âmbito do Grupo de Contato Trilateral.
A realização das eleições nas províncias de Donbass é impossível sem garantir a segurança nelas. A instalação de segurança é impossível sem cessar-fogo, sem retirada das tropas russas e equipamento militar pesado, sem acesso completo para representantes da OSCE ao todo território ocupado, incluindo a parte não-controlada da fronteira, como também sem a libertação de presos políticos.
O principal objetivo estratégico da Ucrânia é aderir à União Europeia como um membro de plenos direitos. A esse propósito estão subordinados tantos esforços da política externa como reformas na política interna e socioeconômica, já implementadas no país. A grande conquista na integração europeia da Ucrânia é o Acordo de Associação com a UE – que, entre outros aspectos, prevê o funcionamento da Zona de Livre Comércio a partir de dia 1.º de janeiro de 2016.
Infelizmente, neste momento a Ucrânia é obrigada a adiar os seus sonhos de progresso, de avanços na economia e desenvolvimento por causa da agressão terrorista do país vizinho, que não aceita a realização desse sonho. Através da sua imposição neoimperialista, ele quer privar o povo ucraniano da sua liberdade, soberania e direito de escolha do seu próprio caminho.
Este meu discurso, espero, dá para entender algo sobre a complexidade de desafios atuais que enfrenta a Ucrânia. Porém os desafios deste tamanho servem ao povo valente e sábio para tornar-se mais unido e coeso em alcançar o grande objetivo. De todos modos para conseguir o resultado desejado é muito importante ter ao seu lado os parceiros confiáveis e seguros. Quero destacar o nível das relações com o país amigo de Geórgia que foi confirmado mais de uma vez nas situações dramáticas. Na América Latina o Brasil no todo o período da história atual da Ucrânia apresentava para o nosso país um interesse especial e em 2009 os dois países decidiram elevar o relacionamento bilateral ao nível de Parceria Estratégica.
Na base desta parceria, a corrente de comércio entre o Brasil e a Ucrânia desenvolveu-se consideravelmente, conseguindo em 2008, 2011 e 2012 mais de 1 bilhão de dólares.
Na área de saúde, o Brasil e Ucrânia mantêm, desde 2007, parceria pela qual o Brasil passou a importar insulina recombinante humana da Ucrânia a preços vantajosos, o que deverá gerar uma economia ao Brasil de R$ 1,2 bilhão até 2022.
Há também importante potencial de cooperação na área educacional, que atualmente é pouco explorado. Em 2012, 50 mil estudantes estrangeiros estudaram em universidades ucranianas, atraídos não só pelo excelente ensino, como também pelos baixos custos da educação na Ucrânia, cerca de US$ 2 mil dólares para cursos de graduação e pós-graduação por ano, contra a média de US$ 14 mil dólares nos países da OCDE. Até o momento registrou-se o intercâmbio de apenas dez estudantes brasileiros da UnB, em 2012, na Universidade Aeroespacial de Dnipropetrovsk, recebendo capacitação na área de engenharia aeroespacial. Atualmente, porém, são 6 estudantes brasileiros que estudam nas nossas universidades.
Como vínculo vivo e permanente entre a Ucrânia e o mundo devo destacar a presença de ucranianos em outros países – vinte milhões de patriotas ucranianos, que sempre promovem ativamente a cooperação entre a sua pátria histórica e o país da sua residência atual. Os descendentes ucranianos no Brasil somam mais de meio milhão de pessoas – a maioria delas no Paraná e em São Paulo. Neste ano celebramos 25 anos da Ucrânia independente e também 125 anos desde a chegada dos primeiros colonos ucranianos ao Brasil. Comunidade ucraniana deu contributos importantes na cultura, na tradição e no desenvolvimento econômico brasileiros, honrando e dignificando também o nosso país. Um exemplo disso é a pêssanka ucraniana, ovo da Pascoa - um dos símbolos de grande orgulho do Paraná e da integração bem-sucedida desta comunidade na sociedade brasileira.
Menciono no final do meu discurso as pêssankas ucraniano-brasileiras como símbolo de nosso vínculo, bem como o símbolo da esperança eterna da humanidade em vitória do bem, no que o amor e a boa vontade devem derrotar o mal e os enganos de vilões. Mais temos que lembrar sempre - isso não se ocorre por si só. Temos que lutar. E luta pela sabedoria, conhecimento e amor é prerrogativa de jovens. Desejo a todos vocês o sucesso neste caminho.
Muito obrigado!